Fugas de nós mesmos...

À medida que amadurecemos, definimos progressivamente o objectivo e a variedade de nossas vidas. De todos os interesses que poderíamos perseguir, ficamos com alguns. De todas as pessoas com quem poderíamos nos associar, seleccionamos um pequeno número. Ficamos presos a uma rede de relacionamentos fixos. Desenvolvemos formas estabelecidas de fazer as coisas.
                Com o passar dos anos vemos o que nos é familiar e nos cerca com uma percepção cada vez menos renovada. Deixamos de olhar atentamente, de forma perceptiva, para as faces das pessoas que vemos todos os dias e para qualquer outro aspecto de nosso mundo quotidiano.
                Não é incomum descobrir que as principais mudanças na vida – um casamento, mudança para uma nova cidade, mudança de emprego ou emergência nacional – quebrem os padrões de nossas vidas e nos revelem de repente o quanto ficamos aprisionados pela confortável rede que tecemos à nossa volta.
                Uma das razões pelas quais pessoas amadurecidas estão menos aptas para aprender que os jovens é que elas se dispõem a arriscar menos. Aprender é um negócio arriscado, e elas não gostam do fracasso. Na infância, quando a criança, quando a criança está aprendendo a um ritmo verdadeiramente fenomenal – um ritmo que ele ou ela nunca atingirá de novo – ele ou ela também está experimentando uma quantidade arrasadora de fracassos. Observe (qualquer criança). Veja as incontáveis coisas que ele ou ela experimenta e fracassa. E veja como os fracassos desencorajam pouco.
                A cada ano que passa, (a criança) ficará menos tolerante ao fracasso. Na adolescência, a disposição de jovens arriscarem o fracasso já diminui imensamente. E com muita frequência os pais os empurram para adiante, instilando o medo, punindo o fracasso ou fazendo o sucesso parecer precioso demais.
                Na meia idade a maioria de nós carrega na cabeça um catálogo enorme de coisas que não temos intenção de tentar novamente porque já tentámos uma vez e fracassámos – ou tentámos uma vez e não fomos tão bem quanto nossa auto-estima exigia.
                Na vida adulta, a maioria de nós realizou fugas de nós mesmos.


In "Inteligência Prática", Karl Albrecht.

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